#Club&Casa Home – Alma brasileira delineia o layout de apê na Zona Sul paulistana
Elementos marcantes do projeto traduzem o espírito de sua ocupante e nos remetem à brasilidade das casas antigas, quando receber na cozinha era mais importante do que ver TV.
Texto: Vanda Mendonça
Fotos: Jean Pierre Pierote/Divulgação
Tudo o que a proprietária queria para seu apartamento, localizado na Vila Mariana (São Paulo), era que tivesse “cara de casa”. O arquiteto Ricardo Velasco tratou de derrubar portas e paredes para integrar os espaços, contando com a equipe da Pipemack Engenharia Integrada, e usou as referências bem brasileiras da cliente para inovar nos materiais e composições. Até o apelo religioso foi incorporado, criando um clima de “casa de antigamente” e sem arroubos eletroeletrônicos.
A ocupante, que é sommelier, quis montar sua adega de vinhos na parede mais fria do apartamento, já que abriria mão de um equipamento industrializado, e fez de garrafas de vinho a base para muitas luminárias. Também eliminou da decoração e da vida o televisor e o micro-ondas. Não faltam reminiscências culturais e ancestrais, como os muitos potes cerâmicos, as plantas e os cobogós, estes charmosos elementos vazados tão característicos da arquitetura nacional. Eles aparecem em cerâmica natural, para vedar parcialmente alguns espaços, garantindo a boa ventilação. Soluções das casas dos avós se fazem presentes, como o filtro de barro.
Como uma tela em branco, as paredes e os tetos pintados de branco valorizam ainda mais os tapetes, mantas, almofadas, cerâmicas, quadros, plantas e livros. Nos pisos, a composição passa pelo taco, pela cerâmica e, finalmente, pelo granilite – que volta à moda com força total. A cozinha, coração do projeto, é o espaço que mais nos remete a esse quadro bucólico, com sua marcenaria rosa e puxadores em concha. Ali, a lavanderia original deu lugar a uma varanda.
Para ampliar a luminosidade, já que não houve rebaixamento do teto, foram instalados trilhos que permitem a criação de cenários diferenciados, complementados por abajures e outros pendentes. Novos caixilhos (Serralheria Marquezan) trouxeram limpeza visual e praticidade às janelas. Peças garimpadas em brechós e outras, com design contemporâneo, compõem o mobiliário. No quarto, uma colcha de retalhos e uma cabeceira de esteira de madeira são referências, assim como um cocar do povo Fulni-ô, originário da região dos antepassados da moradora.