Com uma forte visão de suas raízes nordestinas, o artista plástico e designer fala sobre suas referências em terras portuguesas, as reflexões sociais aplicadas em suas obras e a sustentabilidade frequentemente vista em seus trabalhos.
Texto: Angela Villarrubia
Fotos: Felipe Brasil/Divulgação
Quando criança, Rodrigo Ambrosio adorava fazer desenhos com a tinta estourada das canetinhas coloridas. Com apenas oito ou nove anos, uma senhora de Cabo Verde, para mantê-lo tranquilo durante as férias que passava em território lusitano, o ensinou a pintar com carvão, guache e aquarela. Em Coimbra, visitou o Portugal dos Pequeninos – um parque com miniaturas de casas e monumentos –, que deixou o menino encantado, ainda que inconscientemente, com o mundo da arquitetura. Mais: a porta de seu quarto estava repleta de adesivos, como um prenúncio do seu futuro trabalho com comunicação visual, uma de suas tantas facetas. Todas essas experiências, e muitas mais, contribuíram para encaminhar o jovem para a esfera da arte e do design.
Este filho de brasileira com português formou-se em arquitetura pela Universidade Federal de Alagoas, em sua terra natal, mas logo percebeu que nessa área não teria liberdade e velocidade para concretizar seus sonhos. “Minha veia é artística”, confessa, sem esconder essa dimensão em suas peças de design. Muitas, inclusive, são únicas, têm séries limitadas ou são efêmeras. Este último é o caso da cadeira Engenho, feita com 50 kg de rapadura, que, após ser exposta, foi cortada e degustada. Essa criação foi uma divisão de águas em sua carreira.
Outro marco foi a publicação do livro “A labour of love”, de Lidewij Edelkoort & Philip Fimmano, no qual os autores destacam, em 448 páginas, 70 estúdios de arquitetura, design, moda e desenho têxtil; entre eles, surge o nome de Rodrigo, o único brasileiro da seleta lista. Polifacético, ele exala a cultura brasileira – tão bem simbolizada em sua obra – e, em particular, a nordestina.
Além da incessante atuação em seu estúdio em Maceió ou no laboratório experimental na Ilha de Santa Rita, no mesmo estado, ele visita comunidades de artesãos e estabelece projetos criativos. “Ilha do Ferro – Bom Dia. Boa Tarde. Boa Noite”, por exemplo, é o nome do documentário que retrata o povoado de artistas no Sertão alagoano, revelando seus habitantes e labores. Foi sua sensível estreia como cineasta. Ao lado do arquiteto e designer Marcelo Rosenbaum, com seu instituto A Gente Transforma, ajudou a ressignificar e a oferecer destino a conchas do molusco sururu, na lagoa Mundaú (AL), dando origem, entre outros, ao Cobogó Mundaú (para a Pointer, empresa do Portobello Grupo), e à textura Sururu (Ibratin). Afinal, a sustentabilidade também faz parte da sua filosofia e de sua visão de mundo. “Quero fazer o que me empolga”, sintetiza o profissional.