#Club&Casa Home – Entrevista com Rapha Preto: “Gosto de conhecer sobre o cérebro, as sensações e os sentimentos ao realizar um trabalho”
Hiperativo, o design tem mil ideias na cabeça e nenhum medo ao trabalhar; conheça o designer e artista plástico multidisciplinar cuja força de vontade o leva adiante.
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Texto: Angela Villarrubia
Fotos: Divulgação
Filho de um engenheiro – empresário do setor metalúrgico – e de uma ‘decoradora’, como se dizia em tempos passados, Rapha Preto já tocou em banda de rock, foi modelo, ator e até restaurateur. Incansável – e imparável –, hoje ele é um criativo das artes e do design. Sua história profissional e de vida têm subidas e descidas, reviravoltas e até uma pitada de extraordinário. Enquanto estudava propaganda e marketing, na Universidade Anhembi Morumbi, trabalhava com o pai. Dessa experiência surgiu seu lado inventor, ou melhor, usou princípios do design para conceber maquinário. “Minha família atua com aço há 80 anos. Sempre gostei de criar, assim comecei a projetar máquinas. Fazia da minha cabeça, mas não sabia que aquilo era design: melhorar os processos, a estética, as habilidades. Fazia visceralmente”, recorda.
Também na metalúrgica do pai, teve a ideia de confeccionar uma luminária com o material de descarte. Ao postar o resultado nas mídias sociais, um amigo o convidou para desenhar peças de estilo industrial para seu apartamento. Na sequência, foi convidado por um escritório de arquitetura para executar uma escultura de parede – um relógio – para a Mostra MMorar Party & Gift, em 2016, em São Paulo. “Peguei umas engrenagens do meu bisavô e fiz a peça”. Para o mesmo evento ainda criou uma mesa, que acabou batizada como Iron One, executada com uma chapa de ferro e vidro. Ela foi parar no Instagram da “Casa Vogue” e Rapha teve seu trabalho reconhecido e amplificado. “Veio muita grana no começo: gastei com mulheres, drogas e rock’n roll… Acabou a gasolina e o foguete caiu”, comenta, com seu jeito espirituoso e pensamentos rápidos. Era hora de sacudir a poeira e se reerguer.
O artista plástico nasceu praticamente no mesmo momento que o designer, com bases no upcycling, ou seja, o reaproveitamento de resíduos para a confecção de novos produtos, porém, com valor agregado. “Eu faço de tudo. Não tenho medo de nada”, afiança. E diz dedicar-se bastante ao lado emotivo e afetivo das pessoas. “Gosto de conhecer sobre o cérebro, as sensações e os sentimentos ao realizar um trabalho”. Hiperativo, Rapha Preto tem mil ideias na cabeça e nenhum medo ao trabalhar; conheça o designer e artista plástico multidisciplinar cuja força de vontade o leva adiante. Curiosamente, sua vida tem algo de realismo fantástico. Uma noite sonhou que saia de um enorme galpão e dirigia seu carro para o que seria seu lar, um apartamento amplo e bonito, com plantas.
“Lá vi o meu filho crescido [com cerca de 18 anos; hoje tem quatro]. Era tão real”, narra. No dia seguinte soube que um galpão de 800 m2, atrás da empresa de seu pai, estava vago após 40 anos de uso. Foi visitá-lo e descobriu ser o mesmo do sonho, assim como, mais tarde, descobriria a versão palpável do onírico apê – onde hoje reside. Naquela época, ele confeccionava grandes peças para o designer israelense Dror Benshetrit, com 4 m de altura, e o espaço do galpão veio a calhar. Assim inaugurou seu atelier, onde projeta para marcas de design e produz obras de arte exclusivas – em geral, direcionadas para projetos de arquitetos e designers de interiores, muitas vezes em coautoria.
Rapha revela ter TDAH (sigla para Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e confessa que muitas pessoas o ajudaram em seu caminho – particularmente um amigo que o “ensinou a trabalhar”. Da mesma forma, ele também quer dar a sua contribuição para este mundo: sua meta é montar uma equipe com pessoas dentro do espectro do autismo (já contratou dois), embora, na prática, também empregue profissionais com outros quadros diagnosticados. “A minha intenção é usar a arte e o design como ferramentas. É fazer algo muito maior com as pessoas, com afetividade e história”, enfatiza, ao revelar que está cursando uma pós-graduação em neuropsicologia clínica e reabilitação. E faz uma metáfora simples, mas objetiva: “eu tenho uma bola no campo, e todos jogamos juntos”.