#Club&Casa Home – Em busca da atemporalidade: uma entrevista com o designer Ronald Sasson

O profissional, que confessa viver um momento de mais maturidade em seu ofício, aprecia experimentar e sair da caixinha; sua obra é a prova disso!

Texto: Angela Villarubia

Fotos: divulgação

O bisavô de Ronald Sasson desembarcou no Brasil em 1905, e em 1910 tinha uma das maiores indústrias moveleiras daquele então, a Guelmann, conta o designer de origem judaico-bielor – russa. A empresa funcionou até a década de 1970, e ele, ainda criança, frequentou o chão de fábrica, em Curitiba. Mas o profissional não credita o seu destino a essa experiência.

O seu rumo foi tomado pela somatória de muitas delas. Ao atingir a maioridade, passou um período em Israel, em um kibutz, e, na sequência, morou durante um ano em Paris. Atuou como artista plástico ao longo de vários anos – e chegou a estudar agronomia, curso que nunca completou. Seu primeiro contato com o design, embora não soubesse disso naquele momento, foi ao construir assessórios para instrumentos musicais. Ele relata que desenvolveu tecnologias e formatos para, por exemplo, estojos e capas, “coisas que não existiam naquele momento”.

Depois teve uma fábrica de móveis, que acabou vendendo para uma empresa do Rio Grande do Sul e, no final das contas, mudou-se para a cidade de Gramado, na Serra Gaúcha, para ficar mais próximo das grandes plantas moveleiras. Afinal, além de suas peças de design com edição limitada, também trabalha com projetos de traçado industrial. Autodidata, pensou racionalmente em termos de design ao utilizar um vergalhão galvanizado da sua casa para realizar um móvel.

Duas décadas depois, é dono de um amplo portfólio e coleciona 40 prêmios nacionais e internacionais – até o momento. Ele nota mais maturidade em seu trabalho nos últimos três anos, e acredita de que os desenhos que ficarão para o futuro têm a ver com materiais nobres e proporções generosas. Hoje experimenta mais e revela menos preocupação em relação ao preço final. Suas linhas muitas vezes beiram a experiência artística, especialmente nas peças de produção limitada, ainda que não se expresse nesses termos, de olho nas possibilidades industriais de execução. “Trabalho com desenho; não sou escultor”, ressalta, mas na sequência manifesta, como exemplo, uma inspiração: “se gosto da Pop Art, trago seus pixels em forma de chapas perfuradas a laser, em usinagem e até em algum tipo de tecido”.

Vale ressaltar que ele sempre faz questão de pensar na ergonomia, mesmo que, às vezes, seja na fronteira do conforto. Indagado sobre seus sonhos, ele revela vários – e já que é para sonhar, diz com bom humor, que seja em grande estilo – embora sua trajetória sinalize que possam se tornar realidade. Sasson gostaria de fazer parte do portfólio da Carpenters Workshop Gallery; de realizar uma exposição solo na Europa, com peças de edição limitada; desenhar para uma marca italiana e, a reboque, ganhar o tradicional prêmio Compasso D’Oro; e criar para ou – tros setores. Neste último caso, algo relacionado à logística – motos e bicicletas elétricas, por exemplo – e à comunicação, como celulares.

Em um futuro próximo, planeja montar seu próprio showroom no mesmo prédio onde funciona seu estúdio, onde poderá exibir seu trabalho. Entre suas criações favoritas, destaca os bancos Copan e Kansai, e as poltronas Corpo e Zozimo, todas confeccionadas com materiais nobres e donas de linhas elegantes.

Os pequenos cursos d’água, com suas plantas aquáticas e raízes entrelaçadas, são a inspiração para o banco Igarapé. Tem estrutura metálica revestida em madeira e assentos com alturas irregulares, em catuaba maciça torneada.

De linhas suaves, porém, arrojadas, a poltrona De Beers foi assim batizada em referência à exploradora de diamantes homônima. É executada em latão e couro.
O formato do banco Kansai – nome de uma região japonesa que possui tradicional trançado feito com bambu – foi concebido a partir de cestos, com arestas soltas, dando a ideia de tramas desfiadas. É confeccionado em aço revestido com latão.
O carrinho bar Savassi, nome de boêmio bairro em Belo Horizonte (MG), tem estrutura de metal pintada em microtextura, enquanto as prateleiras e a roda possuem acabamento laminado. Para a Voler.
O desenho aparentemente simples da poltrona Calin 18 é resultado do entrelaçamento de duas alças em sentidos opostos. Ao fundo, o banco Acqua (para a Voler), inspirado no movimento das ondas do mar. É feito em chapa multilaminada revestida com lâminas naturais.
A ondulante cadeira Solla, com estrutura de aço e multilaminado . Seu nome remete ao chamado “couro sola”. Para a Voler.
A poltrona Zózimo é uma homenagem ao colunista Zózimo Barroso do Amaral, “que retratou muito bem e com certo sarcasmo a sociedade carioca dos anos 60”. Tem estrutura em compensado naval e está revestida em latão ou cobre.
A cadeira Corpo é confeccionada em freijó, com encosto em palha sextavada e assento multilaminado. Trata-se de um tributo ao grupo mineiro de dança Corpo. Para a Arti Móveis.
O icônico edifício Copan, de Oscar Niemeyer, dá nome a este banco, que faz referência a seu traçado sinuoso e fluido. Feito com robustas ripas de imbuia maciça. Para a Herança Cultural e a Espasso.
A arrojada poltrona City Blue é desenhada em um único traço, com apenas um fino suporte abaixo do assento. É confeccionada em chapa multilaminada, revestida com tecido. Para a Voler.
Com linhas limpas e paralelas em seu assento e encosto, a poltrona Soto é feita em dobra de arame de aço carbono, com acabamento em padrão latonado ou corten. Para a Voler.

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