#Club&Casa Home – Entrevista com Matteo Cibic: olhar divertido e toque surrealista marcam o trabalho do designer italiano
Com o sonho de infância de ser o novo Michael Jordan ou o próximo Papa, Matteo procura combater a tristeza do mundo por meio da genialidade de suas criações.
Texto: Angela Villarrubia + collab Beto Cocenza
Fotos: divulgação
Matteo Cibic é espirituoso e bem-humorado. Essas características pessoais também se refletem em suas criações, algumas de talha absolutamente insólita. Exemplo? Um armário com cabeça de burrinho! O designer nasceu no norte da Itália, na “cidade do presunto, do queijo e da ópera”, observa. Em outras palavras, ele é natural de Parma (quanto à ópera, vale esclarecer que Giuseppe Verdi era da vizinha Roncole Verdi) e atualmente vive em Vicenza, localidade repleta de obras do arquiteto Palladio. Cibic começou a se interessar por design quando tinha 15 anos. “Eu realmente queria me tornar o novo Michael Jordan ou o próximo Papa. Mas meus pais me deixaram passar o verão com meu tio [o arquiteto
Aldo Cibic, sócio da Sottsass Associati e membro fundador do Memphis Group], em Milão.
Muitas pessoas estrangeiras, estranhas, passavam pelo seu estúdio, e ao lado havia uma famosa agência de modelos – acho que meu estágio durou mais por esta razão do que por interesse inicial no universo criativo. Foi naquela época que pensei ser melhor uma vida como designer do que como Papa”, brinca o profissional, que estudou design no Politécnico de Milão. O mundo de Cibic gira entre a arte e o design. Em seus primeiros movimentos, “gostava mais da escultura; costumava criar grandes peças em malha
de metal, que lembram [o trabalho do escultor] Henry Moore; eu as cobria com fita adesiva e as pulverizava com tinta. Meus pais ficavam muito chateados porque o jardim costumava ter tons de azul e vermelho”, deleita-se.
Sua estreia como designer de produto se deu com uma peça inusitada: um urinol para cachorros, com referências ao Dadaísmo de Marcel Duchamp. “Sou facilmente inspirado por tudo o que vejo; gosto de ser motivado, mudar de idiomas, experimentar novas técnicas de produção e combinações de cores. A vida é tão chata de outra forma”, assinala Cibic, que é instigado por ilustrações de antigos livros, mitologia, obras de arte e artesanato de culturas remotas.
Quando esteve em São Paulo pela primeira vez, em 2021, como designer do ano do BOOMSPDESIGN, comandado por Beto Cocenza (que colabora na feitura desta matéria), visitou museus e livrarias e se encantou com publicações sobre arte indígena e arquitetura modernista local. Em terras paulistanas, ficou surpreso com o tamanho das plantas e das árvores, e “como essa escala extra-grande, em comparação com a Europa, influencia toda a proporção e a divisão de espaços no design de interiores”, analisa, ressaltando, ainda, que o arquiteto Ruy Ohtake e os irmãos Campana o inspiram em seu processo criativo.
Suas criações são cheias de alegria, como uma contraposição à melancolia. “Em 2020, ainda mais, pois passamos muito tempo em casa [devido à pandemia]. Não entendo por que, para ser cool, uma pessoa precisa de uma casa triste”, observa com sagacidade, ao lado de um sem-fim de produtos felizes.