#Club&Casa Home – Fruto da terra: Sergio J. Matos exibe o poder do design brasileiro

Um dos principais astros do design nacional, Sergio J. Matos bebe da fonte da cultura brasileira

Texto: Angela Villarubia
Fotos: divulgação

Sergio J. Matos abraça a poltrona Flor de Lótus, forjada em aço a partir da imagem da planta aquática e suas sete pétalas. Trata-se de uma criação
que contou com a collab da modelo Isabeli Fontana.
Foto: Felipe Damasceno/Divulgação.

Paranatinga, no interior do Mato Grosso, faz parte da chamada Amazônia Legal e está relativamente próxima do Parque Indígena do Xingu. Pois foi nesse pequeno município que nasceu Sergio J. Matos, no coração de uma família humilde. Na capital do estado, Cuiabá, começou a cursar publicidade e marketing, mas logo percebeu que não era o que queria para si, e foi estudar design industrial em Campina Grande, na Universidade Federal da Paraíba – e finalmente se encontrou!

Hoje, ele é um dos profissionais mais reconhecidos do setor, com enorme talento e, inclusive, carisma. Atualmente mora em São Paulo, onde mantém seu showroom, embora o seu estúdio continue na cidade parai – bana, conhecida pelo maior São João do mundo, além, é claro, de ser um dos principais polos industriais do Nordeste.

Um dos grandes atrativos de seu trabalho está em seu visível embasamento nas raízes brasileiras, com referências a nossa cultura, fauna, flora e geografia, com conceitos que remetem especialmente ao Nordeste. “Uma das coisas que me ajudaram muito foi ter mudado para essa região. Hoje eu carrego as suas referências. Devo muito ao Nordeste, devo a minha linguagem”, ressalta o profissional, que, a partir daí, foi incluindo os sopros de inspiração dos outros lugares por onde passou.

Suas peças muitas vezes têm esses nomes tão característicos e sonoros, como Carambola, Marakatu, Bodocongó…Todas elas, e muitas mais, são consideradas autênticos objetos de desejo. Sua criação preferida é a cadeira Cobra Coral, de cores possantes e muita personalidade. Ao desenhá-la, imaginava uma mesa de jantar rodeada por várias delas, mas logo percebeu que só a venderia de uma em uma, como item de destaque em uma ambientação. Uma experiência marcante foi sua admissão no Salão Satélite, dentro do Salão do Móvel de Milão, voltado para jovens talentos. O melhor: ele não se inscreveu para participar, mas, de alguma forma, seu portfólio chegou às mãos de Marva Griffin, sua mítica curadora, que o convidou. Sergio esteve por lá durante três edições, além de uma participação especial pelos 20 anos do evento, fatos que lhe deram visibilidade junto à mídia especializada e aos lojistas brasileiros, ganhando reconhecimento na esfera do design.

Em novembro de 2010 abriu seu estúdio e começou, ele mesmo, a produzir suas peças e a envolver-se com outras feiras. Seu espírito aberto também o levou a diversas experiências que o enriqueceram como profissional e, especial – mente, como ser humano. Ele já fez, por exemplo, consultoria na área de artesanato para o Sebrae e para o Museu do Homem do Nordeste, por intermédio dos quais passou temporadas em comunidades, inclusive indígenas, nos estados do Amazonas, Pernambuco e Paraíba, para ajudar a desenvolver os trabalhos manuais locais, sempre com respeito às pessoas, fazeres e distintas culturas.

Para o designer, a troca é importante. Ele não só colabora com esses artesãos, como também aprende com eles e com a riqueza de um Brasil muitas vezes esquecido e/ou pouco valorizado. E isso amiúde se reflete em suas próprias criações. De sorriso franco e a energia de quem ama o que faz, Sergio está sempre disposto a novas criações, viagens e experiências. Que venham!

O arrojado banco Nós, com nome autoexplicativo, feito em aço inoxidável, com pintura eletrostática. Disponível em várias cores.
O coral Chifre de Alce serviu como inspiração para a escultural poltrona Acaú, batizada assim devido à praia homônima, no município paraibano de Pitimbu. Tem base de aço inox e peças em arame dobrado revestido com fio de algodão e verniz colorido.
A cadeira Buriti celebra o buritizeiro, uma imponente palmeira da Amazônia, a chamada árvore da vida. “A estética brota da lenda dos índios Tapuia, que creditam sua origem a um presente de Tupã, entidade sagrada simbolizada pelo trovão”. Em aço envolto por corda naval.
A peça preferida de Sergio é a cadeira Cobra Coral, que faz parte do acervo permanente do Museum of Arts and Design – Nova York. Tem estrutura de aço inox revestida com corda naval vermelha, preta e branca, além de assento estofado.
As colheres de madeira marcam a poltrona Bodocongó, com base em aço carbono e trama em corda naval. Está baseada nos apetrechos encontrados na feira central de Campina Grande.
A fruteira Marakatu estabelece um elo com a dança de origem africana, “inspirada na cor que estampa a roupa do Caboclo que dança Maracatu”. Sua trama é confeccionada em corda naval.
Com estrutura em aço carbono ou alumínio e trama artesanal em corda naval (em diversas cores), o pufe Carambola evoca a saborosa fruta e seus gomos. Ganhou os prêmios iF Product Design Award, na Alemanha, e o Design Excellence Brazil.
No banco Ianomami, igualmente com nome autoexplicativo, “a trama de corda de poliéster remete às pinturas faciais usadas pelos grupos tribais, como marcas singulares de pertencimento, ritos e celebrações”. Tem estrutura de aço-carbono e é estofado com algodão orgânico colorido produzido na Paraíba.
A recém-lançada poltrona Tupé tem um entrelaçamento que faz referência às tramas de fibra das esteiras indígenas, mas com espírito vanguardista e chapa metálica recortada a laser. É, também, uma homenagem à Praia do Tupé, na margem do rio Negro (AM)
A presença da cor, tão marcante no trabalho de Sergio, é uma das características da luminária pendente Catolé (nome dopequeno fruto de uma palmeira). Disponível em várias tonalidades, é feita em aço e trama de corda naval. Para áreas internas.
Que delícia olhar para a base da mesa Banzeiro, essa enorme escultura de madeira que parece se movimentar e pode ser contemplada através do tampo de vidro. Inspirada nas águas agitadas do rio Negro.
A poltrona Arreio, “filha” direta de um curtume, tem estrutura de aço e cintas de couro afiveladas que formam seu assento e encosto. Parece ter saído diretamente da paisagem do Sertão nordestino.
A irresistível rede Arupemba, baseada no amado artefato de origem indígena, assim como na homônima peneira de fibra, em duas evocações diretas aos povos originários. Disponível em várias cores, tem 180 cm de diâmetro.
Inspirada nas piscinas de coral, a fruteira Acaú é produzida pelas artesãs da Praia do Acaú, no litoral sul da Paraíba.
Balanço Puã: seu nome, em tupi, significa “redondo”. Tem estrutura de alumínio e amarração em corda náutica. Para a Lovato Móveis.

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